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ESG: o que é e como funciona?

Antes de entrar propriamente no significado do termo ESG, é preciso fazer uma retrospectiva histórica para compreender qual o cenário em que o mundo se encontra hoje. Desde, principalmente, a Revolução Industrial, mudanças climáticas e mudanças sociais severas vem acontecendo. Com o advento de grandes fábricas, indústrias e manufaturas, o modelo de desenvolvimento passou a ser baseado na exploração de recursos, tanto naturais, quanto humanos, e as relações trabalhistas e as relações do homem com o meio ambiente se transformaram, sendo, muitas vezes, predatórias para o meio ambiente e nocivas à saúde dos seres humanos. 

Com o passar dos anos e das décadas, sobretudo, no pós Segunda Guerra Mundial, a modernização das relações na sociedade se intensificou. Com a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945, um novo olhar foi lançado sobre essas relações e suas interfaces com o meio ambiente e a ecologia. Na década de 80, vários desastres ambientais ocorreram, como o acidente nuclear da Usina de Chernobyl, na Ucrânia, e até mesmo no Brasil, em que um incêndio ocasionado por vazamento de gasolina em uma refinaria da Petrobras, em Cubatão/SP, culminou na morte de, aproximadamente, 100 pessoas.

Desastres como esses e as mudanças de relações socioambientais, limites no ecossistema foram extrapolados e fizeram com que a ONU e organizações socioambientais mudassem a forma de lidar com os impactados da humanidade na biodiversidade, com a realização, inclusive, de grandes conferências, como a Eco 92, ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro; e a Conferência de Kyoto, ocorrida em 1997 em Kyoto no Japão, a fim de perpetuar e firmar pactos otimistas para o avanço do desenvolvimento sustentável unido ao desenvolvimento social, tecnológico e empresarial.

Com isso, as organizações e empresas passaram a olhar com mais carinho para uma atuação vinculada à sustentabilidade, pois percebeu-se que, aproximar-se da agenda de sustentabilidade pode ser uma estratégia de negócios. Assim, cuidar dos impactos sociais e incorporar uma estratégia de sustentabilidade, com a proposta de entregar valor gerando impacto zero à sociedade e ao meio ambiente e também impactos financeiros às empresas. Nesse sentido, surgiu o conceito de ESG que, em inglês significa “environmental, social and governance” e em português “ambiental, social e governança”, como uma resposta do mercado às pressões da sociedade.

Neste texto, abordaremos mais a fundo o tema. Continue lendo!

O que é o ESG?

Segundo o site do Pacto Global, iniciativa da ONU que incentiva o setor privado a participar da agenda do desenvolvimento sustentável, “o termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins e surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.”

Dessa forma, compreende-se que ESG está relacionado a um conjunto de boas práticas de gestão ambiental, social e de governança, com ações que gerem valor à sociedade. As empresas devem, portanto, prezar pela sustentabilidade empresarial, expressar valores claros e se engajar na busca por soluções de problemas sociais, defendendo pautas como diversidade, equidade e inclusão.

Quais são os critérios do ESG?

O Pacto Global da ONU definiu um conjunto de 10 (dez) compromissos, divididos em 04 (quatro) grupos, para que uma empresa ou uma organização esteja em conformidade com práticas ESG, são eles:

  • DIREITOS HUMANOS
  1. Respeitar e apoiar os direitos humanos reconhecidos internacionalmente na sua área de influência;
  2. Assegurar a não participação da empresa em violações dos direitos humanos;
  • TRABALHO
  1. Apoiar a liberdade de associação e reconhecer o direito à negociação coletiva;
  2. Eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;
  3. Erradicar todas as formas de trabalho infantil da sua cadeia produtiva;
  4. Estimular práticas que eliminem qualquer tipo de discriminação no emprego;
  • MEIO AMBIENTE
  1. Assumir práticas que adotem uma abordagem preventiva, responsável e proativa para os desafios ambientais;
  2. Desenvolver iniciativas e práticas para promover e disseminar a responsabilidade socioambiental;
  3. Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente responsáveis;
  • ANTICORRUPÇÃO
  1. Combater a corrupção em todas as suas formas, incluindo a extorsão e o suborno.

Além disso, as empresas devem cumprir outros critérios como: possuir estrutura de governança, garantir a participação da alta gestão e fortalecer a criação de conselho de sustentabilidade.

É importante destacar o significado e as práticas que compõem cada letra/palavra da sigla ESG. Cumpre ressaltar que os 03 (três) eixos estão intimamente relacionados, devendo ser integrados e colocados em prática em conjunto. 

Environmental (Ambiental)

Refere-se às práticas voltadas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Alguns tipos de agenda comuns são: mudanças climáticas, uso de recursos naturais, controle de resíduos e efluentes, diminuição de gases de efeito estufa, desmatamento, eficiência energética, economia circular, respeito e preservação da fauna e da flora, produção e consumo responsáveis, entre outras.

Social

O social está relacionado à responsabilidade social e o impacto social produzido pelas ações das empresas e organização. Pode ser compilado em um conjunto de práticas voltadas prioritariamente ao ambiente interno e às relações de trabalho que acabam produzindo efeitos no ambiente externo, como: respeito aos direitos humanos, diversidade, equidade e inclusão (D&E&I), segurança no ambiente de trabalho, combate ao trabalho infantil e ao trabalho análogo à escravidão, ações que combatem o assédio moral e assédio sexual, relações com funcionários, due dilligence de fornecedores, relações com a comunidade, respeito à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), entre outras.

Governance (Governança)

A governança está relacionada à governança corporativa, ou seja, à adoção de uma gestão que preza, dentre outras práticas, por uma liderança engajada, pela transparência na divulgação de resultados, ética corporativa, independência do conselho de administração, políticas de remuneração e diversidade, comitês internos e auditorias, controles internos e gerenciamento dos riscos, políticas anticorrupção, existência de canais de denúncias sobre casos de discriminação, assédio e corrupção.

Qual a importância do ESG para as empresas?

Para empresas, de variados ramos ou modelos de negócios, investir em ESG, ou seja, em práticas de sustentabilidade ambiental, inclusão social e de governança no ambiente corporativo, tem-se mostrado como uma estratégia fundamental para o seu crescimento. Essas práticas são sinônimo de gestão eficiente, deixando as empresas menos expostas a riscos de negócios e gerando maior retorno para a sociedade.

Com a adoção de uma gestão ESG, as empresas só têm a ganhar. Isso porque, empresas com bons aspectos em ESG possuem melhor reputação, o que pode aumentar a confiança de investidores e, consequentemente, atrair mais investimentos, agregando mais valor ao negócio. 

Além de impactos diretos no mercado financeiro, práticas que minimizem os impactos ambientais e sociais da atuação da empresa e que busquem por um modelo de governança corporativa fazem com que as empresas garantam a fidelidade dos consumidores, aumente a retenção de talentos e reduza custos e desperdícios. Todos esses efeitos reforçam a imagem da empresa perante a mídia e a sociedade.

Investimentos ESG no Brasil hoje

Os investimentos ESG avaliam as empresas pelos aspectos ambientais, sociais e de governança. Entende-se que esses aspectos são marcadores de melhor gestão de riscos, gerando um potencial de impacto financeiro maior.

Índices ESG da bolsa de valores

Para medir a eficiência das empresas brasileiras em ESG, a B3, bolsa de valores brasileira, lança anualmente o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). Esse índice tem por objetivo medir o comprometimento das empresas com a adoção de medidas de sustentabilidade e de boas práticas organizacionais, sendo também uma ferramenta do mercado financeiro.

O ISE B3 foi criado em 2005 a fim de apoiar os investidores na tomada de decisão de investimento e induzir as empresas serem socialmente responsáveis e adotarem as melhores práticas ESG. O ISE está em sua 17ª composição e reúne 46 (quarenta e seis) ações, de 46 (quarenta e seis) companhias, pertencentes a 27 (vinte e sete) setores. Juntas, as empresas somam R$ 1,74 trilhão em valor de mercado. No ranking do índice divulgado em 2022, dentre as 46 empresas analisadas, as 10 (dez) que se destacaram foram: 

  • 1º EDP – Energias do Brasil (setor de energia elétrica);
  • 2º Lojas Renner (setor de varejo);
  • 3º Telefônica Brasil (setor de telecomunicações);
  • 4º CPFL (setor de energia elétrica);
  • 5º Natura (setor de consumo);
  • 6º Klabin (setor de papel e celulose);
  • 7º Itaú Unibanco (setor financeiro);
  • 8º Ambipar (setor de água e saneamento);
  • 9º Suzano (setor de papel e celulose);
  • 10º Engie Brasil (setor de energia elétrica).

Empresas brasileiras ESG

Qual o momento do ESG no Brasil? De acordo com uma pesquisa do Grupo FSB, divulgada em setembro de 2021, em que se investigou o nível de maturidade de boas práticas de sustentabilidade e gestão em ESG de, aproximadamente, 400 empresas, entre grandes e médias, de todos os setores econômicos, comprovou-se que a implantação de gestão e acompanhamento de temas ESG ainda está muito incipiente, principalmente em médias empresas.

No ranking ISE B3 temos exemplos de grandes empresas símbolos na adoção de práticas ESG. A Natura, por exemplo, grande marca do setor de cosméticos e beleza, é uma das empresas brasileiras mais famosas por assumir fortemente práticas ESG. A empresa criou a campanha #PorUmMundoMaisBonito que definiu diversas causas e compromissos essenciais, alinhadas à visão dos fundamentos ESG, como a utilização de ingredientes seguros para a fabricação de seus produtos, o cuidado com a origem das matérias-primas, a erradicação de testes em animais, utilização de embalagens ecológicas, entre outras.

A marca possui a Visão 2050 e desenvolveu, inclusive, uma ferramenta própria de gestão integrada, a IP&L, que integra fatores sociais, humanos e ambientais. De acordo com o site da empresa, a “IP&L é uma ferramenta de gestão integrada que permite contabilizar, além dos resultados financeiros, o impacto da atuação empresarial nas dimensões ambiental, social e humana.”. Segundo aplicação do modelo, realizada com base nos resultados de 2021, para cada US$1 de receita da Natura, a marca gerou retorno líquido de US$1.5 em benefícios para a sociedade.

Já a EDP, empresa que está no 1º lugar do ranking da B3 e é líder global no setor de geração de energia, se preocupa com a excelência ESG e acredita na sustentabilidade como principal valor de uma estratégia integrada. Ademais, o Grupo EDP mantém compromissos com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e com os Princípios do Pacto Global.

Como ser uma empresa ESG?

Pode parecer simples implantar boas práticas dentro de uma empresa ou uma organização, mas é mais difícil do que se imagina. As estratégias para a incorporação ESG devem ser estudadas e definidas de acordo com o modelo de negócio, setor de atuação, orçamento e visão da empresa. Ou seja, as ações adotadas devem fazer sentido e ser efetivas e não apenas algo que fique no papel ou que seja inócuo.

Para isso, com base no Pacto Global da ONU, as empresas devem estar alinhadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se ligam diretamente a boas práticas de ESG. De acordo com a ONU, “os objetivos de desenvolvimento sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.”. Esses objetivos devem ser alcançados até 2030. 

Para auxiliar as empresas a implantarem uma gestão ESG, com fundamentos no Pacto Global, e, assim, atingirem a realização das ODS, foi desenvolvido duas ferramentas práticas para as organizações integrarem no dia a dia do negócio. O “SDG Compas” é uma ferramenta que opera como “um guia a fim de ajudar as empresas a entenderem os seus impactos relacionados aos ODS e a estabelecerem metas compatíveis.”. A segunda ferramenta, chamada de Ambição pelos ODS, “é um programa de aceleração internacional do Pacto Global que auxilia as empresas no estabelecimento de metas relacionadas aos ODS para integrar uma estratégia ESG em conformidade com padrões exigidos em todo o mundo.”.

No entanto, as definições do Pacto Global funcionam apenas como um norteador. As empresas possuem liberdade para definir quais as melhores estratégias serão adotadas e criar ferramentas próprias para a busca de uma gestão ESG. Os primeiros passos são possuir uma liderança engajada e realizar um estudo de impactos negativos e um diagnóstico de governança. A liderança engajada é fundamental para motivar os funcionários e stakeholders na persecução de boas práticas ESG. Ademais, o modelo de gestão ESG, para ser efetivo, precisa seguir uma agenda estratégica, abarcando temas que a sociedade considera como relevantes.

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